Um incidente chocante em uma academia de Jiu-Jitsu no Brasil gerou amplo debate na comunidade depois que surgiu um vídeo mostrando um instrutor humilhando publicamente um aluno por visitar outra academia sem aviso prévio. A situação destaca as tensões contínuas sobre as normas tradicionais e a evolução das atitudes na arte marcial.
O Incidente
A cena se desenrolou durante uma sessão de treinamento de rotina, onde o instrutor interrompeu a aula para anunciar uma sessão especial de desafio – uma prática muitas vezes reservada para promoções de cinturão ou ações disciplinares. No entanto, este não foi um desafio comum. À medida que a turma se alinhava, o instrutor dirigiu-se ao aluno em questão, falando alto o suficiente para que todos ouvissem:
“Silêncio, preste atenção! Há uma razão para o desafio hoje. Ele visitou outro ginásio sem avisar o sensei!”
Para aumentar o drama, o instrutor referiu-se a si mesmo na terceira pessoa, enfatizando sua autoridade percebida. Ele continuou:
“E não só isso – ele até levou o amigo com ele, que já foi punido.”
Vergonha pública na era moderna do Jiu-Jitsu
O desafio, embora seja uma tradição de longa data em algumas academias de Jiu-Jitsu, tem sido cada vez mais examinado nos últimos anos, com críticos rotulando-o como trote desnecessário. Normalmente, envolve alunos formando duas filas enquanto a pessoa em questão caminha ou rasteja, suportando tapas com cintos. Enquanto alguns veem isso como um rito de passagem, outros o veem como uma prática ultrapassada.
Nesse caso, o desafio não era uma celebração, mas uma punição – um espetáculo público destinado a envergonhar o aluno por quebrar uma regra percebida. As ações do instrutor levantam questões sobre se tal humilhação pública tem lugar no Jiu-Jitsu moderno.
Lealdade à academia versus cultura de tapete aberto
No centro da controvérsia está o conceito de “lealdade à academia”. Os tradicionalistas do Jiu-Jitsu costumam afirmar que os alunos devem informar seu instrutor antes de visitar outras academias, uma regra enraizada na cultura hierárquica das artes marciais. Os proponentes argumentam que ela promove o respeito e protege os segredos de uma academia, como técnicas ou estratégias proprietárias.
Porém, o cenário moderno do Jiu-Jitsu, especialmente no grappling sem kimono, é mais fluido. Tapetes abertos, treinamento cruzado e colaboração entre academias tornaram-se comuns, com muitos atletas vendo o treinamento cruzado como essencial para o crescimento. Os críticos das ações do instrutor argumentam que punir um aluno por buscar treinamento adicional em outro lugar é contraproducente e sufoca o desenvolvimento.
Reações da comunidade
O vídeo se tornou viral nas redes sociais, com reações que vão da indignação ao firme apoio ao instrutor.
- Críticos: Muitos na comunidade de Jiu-Jitsu condenaram o comportamento do instrutor, chamando-o de “tóxico”, “egoísta” e “um abuso de poder”. Um comentarista escreveu, “O Jiu-Jitsu é uma questão de crescimento pessoal, não de servir ao ego de alguém. Esse tipo de comportamento não tem lugar no esporte.”
- Apoiadores: Outros defenderam o instrutor, argumentando que respeitar as regras da academia é fundamental para manter a disciplina. Um apoiador comentou, “Quando você entra em uma academia, você concorda com as regras. Se você não gosta, encontre uma academia que corresponda aos seus valores.”
Um apelo ao equilíbrio
Embora a lealdade às academias e o respeito pelos instrutores continuem importantes no Jiu-Jitsu brasileiro, o rápido crescimento do esporte e a crescente acessibilidade desafiaram as práticas tradicionais. Incidentes como esse forçam a comunidade a refletir sobre quais valores devem definir o Jiu-Jitsu moderno: respeito e lealdade, sim, mas também abertura, crescimento pessoal e eliminação de dinâmicas de poder tóxicas.
Numa arte marcial conhecida pela sua capacidade de criar confiança e fomentar a camaradagem, momentos como estes lembram-nos que a responsabilidade de defender esses valores cabe tanto aos alunos como aos instrutores. Talvez seja hora de a comunidade encontrar um equilíbrio entre honrar as tradições e abraçar o progresso.
Preguiça Jiu-Jitsu: você pode ser lento e pouco atlético e ainda assim arrasar no Jiu-Jitsu.