No mundo em constante evolução do Jiu-Jitsu Brasileiro, a busca pela excelência muitas vezes vem com sacrifícios e, para alguns, o uso de drogas para melhorar o desempenho (PEDs) tornou-se um tema cada vez mais debatido. Discussões recentes de especialistas como o Dr. na longevidade.
A Ciência: PEDs e Longevidade
Mike Israetel, faixa preta de Jiu-Jitsu e cientista do exercício, conversou recentemente com Chris Williamson para investigar as consequências do uso de PED para a saúde. Ele descreveu três mecanismos críticos pelos quais os PEDs podem impactar a longevidade:
- Saúde do coração:
“Eles estão desenvolvendo o músculo cardíaco de uma forma que piora o bombeamento do sangue”, explicou o Dr. Israetel. Essa hipertrofia do músculo cardíaco pode levar a ineficiências e problemas cardiovasculares a longo prazo. - Colesterol e Artérias:
“Eles apresentam consistentemente níveis de colesterol que não fazem nada de bom para as artérias”, observou ele, enfatizando os riscos de arteriosclerose e outras doenças vasculares. - Pressão arterial elevada:
A hipertensão arterial crónica, outra consequência do uso de PED, aumenta a pressão sobre o sistema cardiovascular, agravando ainda mais os riscos para a saúde.
Embora esses efeitos estejam bem documentados, o Dr. Israetel enfatizou que os resultados individuais podem variar. “Se acontecer de você ter usado muitos esteróides, mas manteve a maioria dos seus valores de saúde sob controle… você provavelmente está olhando para menos de cinco anos de expectativa de vida em média”, disse ele. No entanto, a massa corporal – independentemente da sua composição – pode agravar estes riscos. Usando a si mesmo como exemplo, ele comentou: “Tenho 1,60m e atualmente peso 235 quilos… Carregar massa extra força o coração a trabalhar mais, potencialmente contribuindo para problemas de saúde”.
Vagner Rocha: um chamado para despertar
A discussão em torno dos PEDs e da longevidade vem logo após o recente susto de saúde de Vagner Rocha. O grappler de 42 anos, que conquistou a medalha de prata no ADCC 2022 contra Mica Galvão, ficou cinco dias internado após ser diagnosticado com insuficiência cardíaca. Refletindo sobre sua jornada, Rocha compartilhou:
“Agora estou no caminho da recuperação, vivendo um dia de cada vez e monitorando meu coração.”
O caso de Rocha destaca os perigos potenciais associados aos PEDs, especialmente para atletas que dependem da terapia de reposição de testosterona (TRT) à medida que envelhecem. Em 2022, Rocha discutiu abertamente o uso do TRT:
“Estou prestes a completar 41 anos e competi no topo do grappling há mais de uma década. Não tenho vergonha de dizer que estou fazendo uma reposição de TRT para meu corpo, de acordo com um médico.”
Para Rocha, o TRT pode ter sido uma forma de manter a competitividade num desporto fisicamente exigente, mas a sua hospitalização serve como um lembrete preocupante dos riscos.
Gordon Ryan: legado sobre longevidade
Enquanto atletas como Rocha lutam com as repercussões dos DES para a saúde, Gordon Ryan assume uma postura contrastante, abraçando os riscos na busca pela grandeza. Conhecido por seu domínio nos tatames e por suas opiniões polarizadas, Ryan tem sido assumidamente aberto sobre o uso de PED.
“Mesmo que tirasse 20 anos da minha vida, não me arrependeria de ter feito as coisas que fiz para me tornar o maior de todos os tempos neste esporte”, declarou Ryan. “Porque, em última análise, quando eu morrer, meu legado será o que será lembrado.”
Para Ryan, a compensação é clara: o sucesso e o legado superam as potenciais consequências para a sua saúde. Ele elaborou ainda: “Prefiro morrer com um legado aos 50 anos do que ser apenas um cara normal morrendo aos 70 ou 80 anos. Isso não é um sacrifício que as pessoas estejam dispostas a fazer, e é por isso que não são Gordon Ryan.”
O debate: PEDs como ferramentas ou muletas?
Apesar de apoiar os PEDs como um meio de maximizar o potencial atlético, Ryan insiste que eles não são o único determinante do seu sucesso.
“Você precisa de esteróides para ser o melhor atleta do mundo? Não, acho que não”, afirmou. “Acho que poderia ter feito tudo isso de forma natural e poderia ter sido o melhor do mundo sem esteróides.” No entanto, ele reconheceu os seus benefícios inegáveis: “O que eu acredito é que você precisa de esteróides para ser a melhor versão de si mesmo como atleta. Isso é apenas um fato. São drogas que melhoram o desempenho. Você sempre será melhor como atleta tomando esteróides do que seria se não estivesse.”
A introdução de Ryan aos PEDs começou em 2017, depois que ele ganhou o título EBI 11 com 170 libras e decidiu passar para categorias de peso mais pesadas. “Minha primeira introdução aos PEDs, esteróides, como vamos chamá-los, foi depois de ganhar o EBI aos 170… Depois disso, comecei a subir de peso e a chegar a uma categoria de peso superior”, explicou.
O preço da grandeza
Os comentários de Ryan refletem uma mentalidade predominante entre os atletas de elite: a disposição de ultrapassar os limites físicos em prol da excelência. No entanto, a sua perspectiva contrasta fortemente com os contos de advertência de outros membros da comunidade de luta livre, como Rocha, cujas lutas de saúde sublinham os custos potenciais de tais escolhas.
Como os PEDs continuam a ser uma parte controversa, mas integrante do grappling de alto nível, a conversa em torno do seu uso continua a evoluir. Para atletas como Gordon Ryan, a escolha é clara:
“Não vou fazer coisas em que estou trapaceando. Não vou lubrificar e coisas assim, mas esses (PEDs) não são ilegais. Então farei tudo o que puder para ser o melhor atleta que puder ser.”
O debate sobre os PEDs no Jiu-Jitsu se resume, em última análise, a uma decisão pessoal – que pesa o legado contra a longevidade, a grandeza contra a saúde. Para alguns, como Ryan, a busca pela imortalidade nos anais do esporte supera os riscos, enquanto para outros, como Rocha, o foco muda para a recuperação e a reflexão.
Num mundo onde a linha entre o desempenho máximo e o sacrifício pessoal é tênue, a questão permanece: até onde você está disposto a ir pela grandeza?
Preguiça Jiu-Jitsu: você pode ser lento e pouco atlético e ainda assim arrasar no Jiu-Jitsu.