Nos primórdios do prestigiado ADCC (Abu Dhabi Combat Club), um confronto que poderia ter remodelado a história do grappling competitivo estava prestes a acontecer: Mario Sperry x Rickson Gracie na superluta inaugural. Esse fascinante pedaço da história veio à tona quando Mario Sperry, o primeiro Campeão Absoluto do ADCC, compartilhou detalhes da luta proposta em uma entrevista franca.
O torneio inaugural do ADCC, realizado em 1998, contou com a participação de grapplers de elite de todo o mundo, com Sperry saindo vitorioso nas categorias até 99kg e absoluto. Seu desempenho dominante lhe rendeu o direito de ser a atração principal da superluta do ano seguinte. Como lembra Sperry, ele foi informado pelos organizadores do ADCC sobre a intenção de armar um confronto entre ele e Rickson Gracie, figura reverenciada no Jiu-Jitsu Brasileiro (BJJ) e legado da família Gracie. Quando questionado se estava disposto a enfrentar Rickson, a resposta de Sperry foi imediata: “Sim, claro. Seria uma honra lutar com ele.”
Apesar do espetáculo potencial, o confronto foi prejudicado devido a divergências financeiras. Sperry revelou que as exigências de Rickson por compensação eram supostamente altas demais para o orçamento do ADCC na época. “O que ouvi é que ele pediu uma quantia de dinheiro com a qual eles não concordaram”, explicou Sperry, enfatizando que não teve envolvimento direto nas negociações, mas foi informado do impasse.
O histórico de demandas financeiras de Rickson Gracie não se limitou às negociações do ADCC. Em sua autobiografia, Rickson discutiu cenário semelhante quando foi convidado para representar a família Gracie no primeiro evento do UFC. Apesar de seu status lendário e habilidades incomparáveis, Rickson estava firme em sua crença de que a remuneração deveria corresponder ao risco e ao valor que ele trazia ao esporte. “Eu disse a eles que ficaria feliz em lutar por um milhão de dólares”, contou Rickson, o que acabou levando a um colapso nas negociações com os criadores do UFC.
À medida que as negociações com Rickson fracassavam, o ADCC recorreu a outro competidor de destaque, Enson Inoue, que recentemente havia feito barulho ao finalizar Hidehiko Yoshida. Embora Inoue fosse um oponente formidável e um substituto digno, o plano original de Rickson Gracie x Mario Sperry permaneceu um tentador “e se” para os fãs de luta livre. Sperry admitiu que ficou surpreso com o papel das questões financeiras, dado o prestígio que o ADCC já estava construindo.
Refletindo sobre o quase acidente, Sperry reconheceu a importância da oportunidade e a importância de igualar campeões de igual estatura. “Fui o primeiro campeão absoluto, então com quem vou lutar? Preciso de outro campeão absoluto, certo?” ele ponderou. Embora Enson Inoue tenha proporcionado um confronto convincente, nunca poderia igualar o significado histórico que uma luta com Rickson Gracie teria.
Para os fãs da história do Jiu-Jitsu e do ADCC, a chance perdida de um confronto Sperry x Gracie ressalta as negociações complexas e os altos riscos envolvidos na formação de grandes eventos de grappling. Embora a partida nunca tenha acontecido, continua a ser um vislumbre fascinante dos primeiros dias do ADCC e das negociações que definiram o seu futuro. As reflexões de Mario Sperry nos lembram que nos bastidores, as considerações financeiras muitas vezes influenciam as lutas que vemos – ou não vemos – no grappling competitivo.
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