Escrito por Gile Huni, faixa preta de 3º grau de BJJ e instrutor chefe da Kimura BJJ Sérvia
O Jiu-Jitsu brasileiro é conhecido por seu treinamento intenso, camaradagem e profundo desenvolvimento pessoal. Mas, em alguns casos, as academias de BJJ podem se tornar ambientes que são menos sobre a arte e mais sobre ego, poder e manipulação. Nesses casos, as academias desenvolvem uma atmosfera de culto, onde o instrutor é colocado em um pedestal, muitas vezes levando a dinâmicas prejudiciais e tóxicas.
Na minha academia, fiz esforços conscientes para evitar que esses problemas surgissem, criando um ambiente equilibrado, profissional e focado em serviços. Neste artigo, explicarei por que algumas academias de BJJ se tornam “seitas” e quais medidas eu tomo para garantir que minha academia evite essas armadilhas.
Por que as academias de BJJ se tornam um culto?
Na raiz deste problema está dinâmica de poder. Academias de BJJ geralmente têm um instrutor líder que se torna a figura central, ocupando papéis de ensino e liderança. Com o tempo, os alunos começam a idolatrar esse instrutor. Quando uma pessoa controla todos os aspectos da academia — ensino, relacionamentos e até mesmo as decisões comerciais — isso pode criar um ambiente propício para abuso de poder.
Nessas situações, o instrutor pode involuntariamente se tornar uma figura de “guru”, visto como infalível por seus alunos. O problema surge quando essa influência se estende além do ensino de BJJ. O instrutor se envolve na vida pessoal dos alunos, levando a relacionamentos inapropriados, favoritismo e até mesmo manipulação. É aqui que o “culto à personalidade” cria raízes, e o foco da academia muda do treinamento de jiu-jitsu para servir ao ego do instrutor.
As principais estratégias que uso para evitar comportamentos de seita na minha academia
Para evitar que minha academia caia nessas armadilhas, implementei diversas estratégias que garantem um ambiente saudável, profissional e voltado para o serviço.
1. Hierarquia plana: responsabilidades e liderança compartilhadas
Um dos principais problemas em academias de culto é a concentração de poder em um indivíduo. Para evitar isso, garanto que minha academia opere com uma hierarquia plana. Em vez de um instrutor ser o “guru” ou a única figura de autoridade, tenho vários instrutores compartilhando responsabilidades. Isso distribui o poder pela equipe e impede que qualquer indivíduo se torne o ponto focal da academia.
Além disso, eu revezamento regularmente a equipe de ensino. Isso garante que nenhum instrutor se torne o foco principal da atenção dos alunos. Ao fazer isso, criamos um ambiente onde os alunos recebem uma variedade de perspectivas e estilos de ensino, e nenhum instrutor é colocado em um pedestal.
2. Limites claros: concentre-se no Jiu-Jitsu, não na vida pessoal
Outra estratégia essencial que utilizo é a aplicação limites claros entre instrutores e alunos. O papel de um instrutor é ensinar BJJ, não se envolver profundamente na vida pessoal de seus alunos. Embora construir uma comunidade seja importante, é crucial que os relacionamentos pessoais não confundam os limites entre profissionalismo e amizade.
Já vi academias onde os instrutores cruzam os limites ao se envolverem demais na vida dos alunos, o que pode levar ao favoritismo ou até mesmo a relacionamentos inapropriados. Na minha academia, mantemos uma separação estrita entre papéis pessoais e profissionais. Focamos no jiu-jitsu, no treinamento e no serviço profissional que oferecemos, em vez de cultivar uma “família” ou círculo social onde a dinâmica pode se tornar tóxica.
3. Instrutores rotativos: prevenindo o culto à personalidade
Uma das maneiras pelas quais as academias desenvolvem uma atmosfera de culto é permitindo que um instrutor domine todos os aspectos do ensino. Para evitar que isso aconteça na minha academia, eu regularmente instrutores rotativos. Isso garante que nenhum instrutor se torne o ponto focal das atenções.
Se eu notar que um instrutor está começando a se tornar a pessoa “a quem recorrer” para todos os alunos, ajustarei o cronograma para que outros instrutores tenham mais oportunidades de ensino. Ao rotacionar os instrutores e variar os horários das aulas, evitamos a situação em que uma pessoa tem muita influência ou controle sobre os alunos.
4. Foco no serviço: o que importa são os alunos, não os instrutores
No centro da filosofia da minha academia está a crença de que estamos oferecendo uma serviço. Nosso objetivo é ajudar os alunos a desenvolver suas habilidades e atingir seus objetivos pessoais, não alimentar o ego de nenhum instrutor. Uma mentalidade baseada em serviço garante que estejamos sempre focados em oferecer a melhor experiência possível para nossos alunos, em vez de construir um ambiente que gire em torno de qualquer indivíduo.
Em uma academia tipo culto, o foco geralmente muda para os desejos e objetivos pessoais do instrutor. Na minha academia, deixamos claro que as necessidades dos alunos vêm em primeiro lugar. Estamos aqui para ensinar jiu-jitsu, não para criar um ambiente onde os alunos sintam que devem algo ao instrutor pessoalmente.
5. Liderança equilibrada: freios e contrapesos na academia
Eu também acredito em um sistema de liderança equilibrada. Assim como um governo tem freios e contrapesos para evitar que qualquer ramo se torne muito poderoso, minha academia opera com princípios semelhantes. Há pessoas diferentes responsáveis por diferentes funções, incluindo administração, instrução e marketing. Ao dividir responsabilidades, nenhuma pessoa pode dominar todos os aspectos da academia.
A pessoa que é dona da academia (nesse caso, eu) tem a responsabilidade de garantir que as metas da academia sejam cumpridas, mas eu delego responsabilidades em uma equipe para garantir um equilíbrio saudável de poder. Dessa forma, criamos um ambiente onde as decisões são tomadas para o benefício da academia como um todo, em vez de para o benefício pessoal de qualquer indivíduo.
Evitando a mentalidade de culto: é sobre os alunos
Em última análise, a chave para evitar a mentalidade de culto em uma academia de BJJ é manter uma mentalidade clara foco nos alunos. Não se trata do instrutor ou de seus desejos pessoais. A academia existe para fornecer valor aos alunos, e cada decisão deve ser tomada com seus melhores interesses em mente.
Ao manter limites profissionais, distribuir responsabilidades e rotacionar instrutores, garanto que minha academia permaneça focada no jiu-jitsu e no desenvolvimento dos alunos, em vez de se tornar um lugar onde o ego do instrutor é alimentado. Essa abordagem me ajudou a criar um ambiente positivo, produtivo e saudável para meus alunos — um onde eles podem se concentrar em aprender e crescer, sem a dinâmica tóxica que assola algumas outras academias.
Se você está pensando em se juntar a uma academia de BJJ ou já tem uma, tenha esses princípios em mente. Uma cultura de academia saudável começa do topo e requer esforço consciente para evitar as dinâmicas prejudiciais que podem facilmente criar raízes se não forem controladas. Mantenha o foco nos alunos e você construirá uma academia que será bem-sucedida para todos os envolvidos.
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