No mundo do Jiu-Jitsu Brasileiro, a etiqueta e a tradição ocupam um lugar único. No entanto, críticas recentes do faixa-preta de Jiu-Jitsu Kenan Cornelius geraram uma discussão acalorada sobre se algumas academias, especialmente grandes afiliações como a Gracie Barra, estão levando essas tradições longe demais. Um videoclipe viral de Cornelius reacendeu o debate, com ele denunciando o que considera regras “de culto” nas escolas de Jiu-Jitsu brasileiro que restringem a independência e autonomia de seus alunos.
No podcast Eu sou péssimo no Jiu-Jitsu, Cornelius explica sua postura dizendo:
“Entendo que as regras podem estruturar o treinamento, mas algumas dessas academias tratam seus alunos como soldados, e não como indivíduos que estão ali para aprender. É uma questão de controle – não de respeito. Quando você precisa pedir permissão para sair do tatame, você está forçando a lealdade à academia acima do verdadeiro espírito do Jiu-Jitsu.”
O ponto de vista de Keenan Cornelius: um impulso para a autenticidade no Jiu-Jitsu
Para Cornelius, o cerne da questão está na forma como as academias de Jiu-Jitsu moldam o comportamento e a lealdade dos alunos. Ele argumentou que a aplicação dessas regras pode criar uma cultura insular, promovendo a obediência sobre a expressão individual e o pensamento crítico nas artes marciais.
“O Jiu-Jitsu deve ser uma questão de se esforçar e respeitar os outros porque você quer – não porque você é forçado a isso. Há uma diferença entre a disciplina que auxilia a aprendizagem e a disciplina que sufoca a independência.”
A corrida brasileira Gracie Barra, uma das afiliações de Jiu-Jitsu mais proeminentes do mundo, foi recentemente investigada por suas políticas rígidas sobre etiqueta do cinto e comportamento no tatame. Conhecidas pela ênfase na disciplina e na estrutura, as escolas Gracie Barra incentivam os alunos a seguir determinados protocolos que, segundo alguns, beiram o autoritarismo.
Resposta da Gracie Barra: “Respeito dentro e fora do tatame”
Em resposta às críticas, a Gracie Barra Fulham divulgou um comunicado nas redes sociais, destacando que sua abordagem ao treinamento de Jiu-Jitsu está enraizada no respeito:
“Dominar a arte do Jiu-Jitsu começa com respeito dentro e fora do tatame. Quer você seja faixa-branca ou um praticante experiente, seguir a etiqueta adequada é essencial para um ambiente de treinamento seguro e positivo.”
A Gracie Barra passou a detalhar suas regras para manter a etiqueta, incluindo:
- Higienizando seus pés antes de pisar nos tapetes para garantir a limpeza.
- Sentado com as pernas cruzadas e ereto ao descansar para demonstrar respeito e atenção.
- Curvando-se ao entrar e sair do tatame como um gesto de respeito.
- Usar sapatos quando estiver fora do tatame para manter os tapetes limpos.
- De costas para o instrutor ao amarrar o cinto como sinal de humildade.
- Proibindo bebidas no tapete para manter os padrões de higiene.
A reação a estas orientações foi dividida, com alguns profissionais defendendo as regras como uma forma de incutir disciplina e respeito, enquanto outros as consideram excessivas.
Reações mistas da comunidade de Jiu-Jitsu
Muitos entusiastas do Jiu-Jitsu rapidamente recorreram às redes sociais para expressar seus pensamentos. Para alguns, as regras são percebidas como desnecessariamente restritivas, um obstáculo à progressão do desporto.
Um praticante comentou:
“Você está pedindo permissão para sair e entrar nos tatames? Não, estou bem, obrigado.
Outro acrescentou:
“Vocês tratam seus alunos como se estivessem na 3ª série, pedindo permissão para sair do tatame haha. Somos tratados como adultos na minha academia e gosto que seja assim.”
Ainda mais veementes foram os críticos do protocolo de reverência. Um comentarista postou:
“Curvando-se em um tapete? Não, estou bem 😭. Muitos disparos de poder desnecessários com regras arbitrárias.”
Alguns alunos viram mérito nas regras de higiene, como higienizar antes de pisar no tatame, mas acharam o resto da etiqueta excessivo. Como um praticante resumiu:
“É por isso que a Gracie Barra é uma piada para a maioria das pessoas. Você deixa seus alunos treinarem em outras academias?”
O debate mais amplo: respeito, tradição ou controle?
A comunidade do Jiu-Jitsu há muito está dividida sobre o papel da etiqueta tradicional. Embora alguns acreditem que as regras são vitais para incutir disciplina e respeito, outros vêem-nas como estruturas ultrapassadas, um meio de controlo e não de cultura. À medida que o Jiu-Jitsu se torna mais popular, o choque entre tradição e modernidade só se intensifica.
Por enquanto, a Gracie Barra e outras academias tradicionais mantêm suas regras como essenciais para manter o respeito e a segurança no tatame. No entanto, como destacam as críticas de Cornelius e a reação subsequente, há um apelo crescente por maior flexibilidade e foco na autenticidade em vez do controle rígido nas academias de Jiu-Jitsu.
A questão permanece: o Jiu-Jitsu Brasileiro continuará com suas tradições rigorosas ou irá se adaptar aos valores em evolução de seus praticantes diversos e globais? Como observou Cornélio:
“Afinal, o Jiu-Jitsu não é apenas um esporte. É um estilo de vida que não deveria exigir obediência cega para prosperar.”