No Jiu-Jitsu Brasileiro, a jornada para ganhar a faixa preta é frequentemente considerada um teste de habilidade, perseverança e crescimento pessoal. Porém, para Francisco Mansor, faixa-preta de Helio Gracie, essa jornada teve uma reviravolta inesperada – que girou em torno de seu amor pelo café.
A Filosofia da Disciplina de Helio Gracie
Helio Gracie, um dos fundadores do Jiu-Jitsu Brasileiro, era conhecido por sua ênfase na disciplina e no estilo de vida, tanto quanto no domínio técnico. Ele acreditava que o Jiu-Jitsu era mais do que apenas uma arte marcial; era um modo de vida. A filosofia de Helio estava profundamente enraizada em princípios de pureza, respeito e integridade pessoal. Ele implementou regras rígidas, desde a obrigatoriedade de kimono branco até o símbolo de simplicidade e disciplina, até a manutenção de padrões profissionais para os instrutores. Esses padrões se estendiam até mesmo à aparência pessoal, com proibições de tatuagens faciais, dreadlocks e peso excessivo.
Para Hélio, os hábitos pessoais eram tão importantes quanto a proficiência técnica, vendo-os como reflexos do caráter. Essa crença moldaria profundamente o caminho de Francisco Mansor para conquistar a faixa preta.
Um atraso de 15 anos por causa do café
Mansor ingressou na Academia Gracie em 1955, provando rapidamente ser um praticante habilidoso e formidável. Apesar do sucesso nos tatames, sua promoção à faixa-preta foi adiada por surpreendentes 15 anos. A razão? Café.
Durante entrevista em podcast, Mansor revelou que Helio Gracie negou a faixa preta por causa do consumo de cafeína. Ele relembrou um momento crucial durante um campeonato noturno, quando Carlos Gracie, irmão mais velho de Hélio, abordou diretamente o assunto. Mansor explicou:
“Um dia, Carlos perguntou ao Hélio: ‘O que você está esperando para dar a faixa-preta para o Mansor? Mansor venceu todo mundo. E Hélio respondeu: ‘Mansor toma café’. Levei 15 anos para receber minha faixa preta. Entrei na academia em 1955 e só recebi em 1970.”
Para Hélio, o hábito de tomar café de Mansor era mais do que um vício trivial: simbolizava uma falta de disciplina que ele acreditava ser incompatível com as responsabilidades de um faixa-preta. Helio via a faixa preta como uma representação não apenas de habilidade técnica, mas de um compromisso holístico com os valores do Jiu-Jitsu brasileiro.
Um teste de caráter
Para Mansor, a jornada para abandonar o café tornou-se um teste de sua dedicação à arte marcial. Não se tratava apenas de ganhar um cinturão; tratava-se de alinhar seus hábitos pessoais com os princípios defendidos por Helio. Dessa forma, a promoção de Mansor à faixa-preta representou não apenas um marco em habilidade, mas uma transformação em caráter.
A história ressalta a filosofia de Helio Gracie de que a prática do Jiu-Jitsu brasileiro vai além do tatame. Disciplina, respeito e integridade pessoal eram tão importantes quanto passagens de guarda e submissões.
Um legado de valores
Embora o Jiu-Jitsu brasileiro moderno tenha evoluído para abranger uma gama mais ampla de estilos de vida e práticas, os padrões rígidos de Helio permanecem um lembrete das raízes da arte na disciplina e no crescimento pessoal. A história de Francisco Mansor serve como um exemplo de como a abordagem de Helio às artes marciais era mais do que lutar – era cultivar um modo de vida.
Para Mansor, desistir do café foi um pequeno preço a pagar pelas lições que aprendeu e pelos valores que internalizou ao longo do caminho. Sua jornada até a faixa preta reflete a filosofia mais profunda do Jiu-Jitsu: a transformação do indivíduo por meio da disciplina, do comprometimento e do autoaperfeiçoamento.
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