No mundo do Jiu-Jitsu brasileiro, onde a tradição e os sistemas de progressão estão profundamente enraizados, a inovação pode muitas vezes levar à controvérsia. Marvin Castelle, faixa-preta do sistema 10th Planet, recentemente causou sensação ao promover adultos da faixa-branca para a faixa-cinza, classificação normalmente reservada às crianças no esporte. Esta medida provocou uma mistura de descrença, humor e crítica na comunidade, levantando questões sobre as implicações para a cultura e integridade do desporto.
Quebrando tradição ou diluindo padrões?
A progressão tradicional da faixa de Jiu-Jitsu para adultos – branca, azul, roxa, marrom e preta – foi projetada para representar marcos significativos em habilidade, conhecimento e comprometimento. As faixas cinzentas, juntamente com as faixas amarela, laranja e verde, têm sido historicamente utilizadas para que as crianças reconheçam o seu desenvolvimento antes de atingirem a idade em que as faixas dos adultos são atribuídas. Para muitos profissionais, a introdução da faixa cinza para adultos parece desnecessária, até mesmo contraproducente.
Os críticos argumentam que o sistema estabelecido, complementado por faixas nos cintos, já fornece marcos suficientes para acompanhar o progresso. Ao introduzir um novo cinturão, Castelle despertou temores de diluir o significado e o prestígio de promoções legítimas. A preocupação predominante é que tais movimentos possam reduzir a credibilidade do Jiu-Jitsu, especialmente se essas mudanças forem percebidas como truques de marketing, em vez de inovações baseadas nos princípios das artes marciais.
Uma tendência crescente entre as escolas?
Curiosamente, Castelle não é o primeiro a experimentar sistemas de cintos não tradicionais para adultos. Escolas como a Straight Blast Gym (SBG), liderada pelo primeiro faixa-preta de Jiu-Jitsu da Irlanda, John Kavanagh, implementaram faixas exclusivas entre branco e azul. Da mesma forma, outras academias, como a American Top Team, a academia de Robson Moura e a Ribeiro Jiu-Jitsu, premiaram faixas verdes para adultos.
Essas práticas, no entanto, atraíram duras críticas de figuras proeminentes da comunidade do Jiu-Jitsu. Josh Hinger, campeão mundial sem kimono em 2017, recentemente criticou o sistema SBG, rotulando-o de prática “McDojo” – um termo usado para descrever escolas de artes marciais que priorizam o ganho financeiro em detrimento do ensino de qualidade e integridade. A crítica de Hinger destaca a preocupação de que tais sistemas de cinturões possam priorizar os interesses comerciais em detrimento do ensino de valores fundamentais das artes marciais, como paciência, perseverança e dedicação.
O debate McDojo
O termo “McDojo” refere-se a escolas que utilizam práticas questionáveis para maximizar o lucro, muitas vezes em detrimento da qualidade do ensino. Para Hinger, adicionar “cintos intermediários” para adultos se enquadra diretamente nesta categoria. Ele ressaltou que essas faixas intermediárias podem confundir as regras da competição, já que os grandes torneios reconhecem apenas as faixas padrão para adultos.
“Se esses cintos são bons para os negócios, então não é exatamente isso que é um McDojo?” Hinger questionou em uma postagem contundente nas redes sociais. “Talvez os alunos precisem aprender a ter paciência e dedicação antes de conseguirem qualquer tipo de promoção ao cinturão. Não dar-lhes ‘cintos intermediários’ que geralmente são reservados para crianças.”
Estratégia de Negócios vs. Valores das Artes Marciais
Os defensores de sistemas de faixas não tradicionais argumentam frequentemente que podem ajudar a reter os alunos, proporcionando recompensas e reconhecimento mais frequentes, o que poderia levar a melhores resultados comerciais para as academias. No entanto, os oponentes argumentam que esta mentalidade contradiz os valores das artes marciais, que enfatizam o progresso através do trabalho árduo e da perseverança, e não através de atalhos.
Os críticos estão particularmente preocupados com a forma como estas mudanças poderão impactar a concorrência. Uma faixa cinza ou faixa verde para adultos não se enquadra perfeitamente nas divisões estabelecidas, deixando dúvidas sobre como esses profissionais competiriam de forma justa sem serem rotulados como sacos de areia.
Uma discussão polarizadora
A decisão de Marvin Castelle e outras academias de introduzir faixas cinzentas ou verdes para adultos gerou uma conversa mais ampla sobre o equilíbrio entre inovação e tradição no Jiu-Jitsu. Embora alguns vejam estas mudanças como adaptações inovadoras para satisfazer as necessidades modernas, outros vêem-nas como uma ladeira escorregadia no sentido de comprometer a integridade do desporto.
À medida que o Jiu-Jitsu continua a crescer globalmente, será interessante ver se essas práticas ganham força ou desaparecem sob a pressão da comunidade. Por enquanto, o debate destaca uma tensão crítica nas artes marciais: permanecer fiel à tradição enquanto se adapta a um cenário em evolução.
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